Olha, minha ida a Edimburgo não foi das mais abençoadas: o tempo não ajudou em absolutamente nada, choveu a maior parte da viagem e uma das poucas alegrias que tive foi ter acertado na escolha do Haymarket Hotel.

Com o céu completamente cinza e ouvindo trovoadas tive a pior ideia da viagem: me enfurnar em um ônibus semi-leito em uma viagem de quase 6 horas em direção ao Lago Ness.

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O motorista que conseguiu a proeza de falar por doze horas de viagem. Esse homem é uma máquina!

Quando fazer uma viagem ao Lago Ness

Quando se tem tempo.

Não adianta tentar tirar água de pedra: quando se faz uma viagem passeando por capitais, e pincelamos grandes cidades com o intuito de conhecer novos países, geralmente é furada tentar abraçar o mundo em um fim de semana, vale mais curtir com qualidade o que foi planejado.

O Lago Ness faz parte das Highlands escocesas, um extenso trecho de terra pelo noroeste do país onde passamos por dezenas de cidades muito pouco povoadas. É fácil perder uns bons dois ou três dias viajando por ali, de carro, com o intuito de conhecer os principais lochs do país, como o Ness e o Lomond, mas é loucura se sacrificar em um batidão de doze horas.

O Lago Ness é o ponto alto de uma viagem contemplativa: se você gosta de dirigir, está disposto a guiar na mão contrária, caminhar por trilhas naturais e a ideia de fotografar belas paisagens te satisfaz, tenho certeza que você irá se apaixonar pelas coisas que irá encontrar.

Só não deixe de dar uma olhada na previsão do tempo, é claro.

Algumas das excursões estacionadas em nossa primeira parada, Trossachs Woollen Mill. Você pode pesquisar por passeios similares ao meu

O que são as Highlands da Escócia

É um trecho de terra pouco habitado (de acordo com a lenda existem três ovelhas para cada escocês) com algumas cidades, lagos (que eles chamam de lochs), agricultura, pecuária, praias, montanhas e monstros fantásticos habitando lagos imensos. Essas altas terras escocesas são divididas em seis regiões menores:

North Highlands é a parte histórica, dos castelos, museus. É o turismo tradicional, de visitação. Tem montanhas, lagos e rios também. Fica no caminho para o extremo norte, onde encontramos Inverness, Loch Ness e Nairn, a parte mais conhecida e visitada. Todas as outras regiões eu ainda não conheço, mas agora já sei como conhecê-las: com tempo, e de carro, porque não tem nada mais monótono do que se ater ao cronograma.

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Primeira parada: Trossachs Woollen Mill, bem na beira da estrada, onde você encontra todas as excursões do dia

Conhecendo o Lago Ness

Não existe diferença geológica para distinguir um lago de um loch, mas na Escócia eles geralmente são chamados assim. O Lago Ness pode ser o mais popular, mas acredito que o mais escocês seja o Lomond. Só não confunda os nomes: Ness é o nome do lago e Nessie é o nome do monstro.

Claro que o que me motivou a entrar nessa furada foi imaginar a chance de conhecer o lago mais famoso do mundo, mas, é como eu disse, a gente tem que pesar as possibilidades reais e tomar uma decisão sensata: mesmo com outras paradas pelo caminho, o que fizemos foi entrar em um ônibus que nos levou em direção ao norte para que seis horas depois pudéssemos fotografar a beira de um lago.

E depois voltamos. Outras seis horas de viagem.

Imagina minha cara, minha paciência e minha raiva por não ter internet no celular e nem carregador de bolso. Nem Candy Crush consegui jogar.

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Segunda parada: a parada do almoço. Não consigo lembrar o nome do lugar, mas a dica é não pedir a batata, que não tem gosto de nada, nada

E o monstro, quem viu o monstro do Lago Ness?

Olha, vou te dizer algo que pode mudar os seus planos: não existe monstro algum.

Sei que a realidade é cruel, mas vamos lá: no início do mês um geólogo italiano chamado Luigi Piccardi publicou um artigo na Scientific American mostrando que todas as aparições do monstro nada mais eram do que bolhas causadas pelo choque de placas tectônicas.

De acordo com Piccardi, logo os anos entre as décadas de 1920 e 1930, quando o monstro foi visto pela primeira vez e depois com maior frequência, foram especialmente marcados pelo movimento da placa Glen que possui fendas justamente sob alguns dos lagos escoceses mais famosos.

E não foi por falta de tentativa: dezenas de institutos de todo o mundo, incluindo a BBC, durante anos tentaram encontrar algo, fizeram tudo que você possa imaginar, desde contratar submarinos soviéticos a amarrar câmeras e sensores de movimento nas nadadeiras de golfinhos – o que é no mínimo ecologicamente questionável.

Sabe aquela famosa imagem que mostra o pescoço de uma criatura desconhecida passeando pelo lago? Publicada na década de 1930 pelo médico inglês Kenneth Wilson, ela foi comprovadamente desmentida anos depois por ele mesmo.

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E essa é a “janela”, personagem principal dessa história

Será que escolhi o melhor passeio para o Lago Ness?

Existiam outras day trips disponíveis, mas a única que passava pelo Lago Ness era a Loch Ness & The Highlands of Scotland. Hoje eu fico pensando se não teria sido melhor fazer a segunda, do Lomond, mas, por outro lado, imagino que seria tão longa quanto.

O passeio custou 41 libras e durou doze horas, do pick up ao drop off que, mais uma vez, aconteceu a menos de um quarteirão da minha dica de hospedagem em Edimburgo.

Existem algumas paradas pelo caminho, mas elas não passam de paradas, duram 5 minutos cada. A primeira foi em Trossachs Woollen Mill, um posto em beira estrada de uma família local que produz lã numa vila chamada Kilmahog, no vale de Glen Coe.

Tem o que beliscar, onde ir ao banheiro e ainda dá para comprar lembrancinhas escocesas. Trossachs Woollen Mill virou parada obrigatória de todos os ônibus que passam por lá porque ela é a maior delas, além de ficar na A82, uma das mais longas estradas do país e uma das principais que leva ao Lago Ness.

De lá a gente segue para Rannoch Moor, um pântano colado ao Loch Rannoch. Foi ali naquele brejo onde foram gravadas as cenas finais de Skyfall, onde Bond encontra M no meio de uma estrada, logo antes de chegarem na fazenda que dá nome ao filme.

É lindo, mas dura minutos, é só sair e bater a foto. Para preparar o clima, o motorista (um escocês com o inglês mais rápido da Europa) coloca a trilha sonora para tocar minutos antes da chegada:

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Isso é Loch Rannoch, bem na entradinha do rancho onde foi gravado Skyfall. É lindo, desde que não tenha vento, nem frio, nem chuva

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Depois seguimos para Fort Augustus, de onde sai o barco que dá uma volta por parte do Lago Ness. Pelo caminho outros lochs aparecem pela janela, como o Loch Leven em Ballachulish.

Bem, tudo que aparece pela janela é fantástico: se tem uma coisa que não vou esquecer nessa viagem foi a janela, molhada, e tudo que aparecia lá fora. Principalmente as ovelhas: elas são as mesmas de todo o Reino Unido, da raça cara-preta, a diferença é que as do norte da Escócia tem os pelos mais longos, o que tornou famosa a lã escocesa.

Enfim, chegando no Loch Ness

O engraçado é que existe apenas um barco que sai de hora em hora para um passeio de 40 minutos. Ou seja, qualquer atraso de 10 minutos na programação pode te fazer perder aquilo que você foi fazer ali.

E apesar do meu grupo ter chegado a tempo contrariando todas as expectativas (enfrentando chuva, neblina e acidentes na estrada), eu ainda assim escolhi ficar de fora.

É que não senti segurança alguma no meio de transporte: tinha muita neblina, uma garoa constante e muito, mas muito turista para pouco barco. Como imaginei, ninguém ficou de fora: o sujeito colocou mais de 70 pessoas amontoadas na parte coberta do barco, claro que ninguém topou ficar na chuva.

Esse geralmente é um passeio opcional, pago por quem escolhe fazê-lo. O motorista vende as entradas, ainda no ônibus, no início do dia pelo preço de balcão. Rola uma insistência estranha que pega muito mal para reputação do guia, mas de qualquer forma quem faz questão de embarcar no passeio precisa comprar com ele, caso contrário corre o risco de ficar sem.

Eu cheguei lá e optei por tomar um chocolate quente, esperar 40 minutos e voltar para o ônibus num mau humor que com palavras eu não consigo descrever.

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Chegamos em cima da hora, mesmo ficando 20 minutos parados em uma ponte por causa do trânsito causado por um acidente logo em frente. Não sei como aquilo não caiu e levou todo mundo junto

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Muita chuva em Fort Augustus e um blogueiro tentando decidir se passaria seus 40 minutos de espera no restaurante ou no postinho em frente…

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Edinburgh - Loch Ness 48 Fort Augustus … escolhi o restaurante, que não ventava e ainda tinha wi-fi

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Enquanto isso o pessoal lá, curtindo um cruzeiro esperto pelo Lago Ness

Voltando para Edimburgo passando por Pitlochry

A caminho dessa pequena e simpática cidade passamos também por Inverness, que supostamente seria uma cidade grande, mas não consegui ver diferença nenhuma entre ela e todas as outras que passaram pela janela.

Seguimos para Fort William, demos uma paradinha rápida para ver o pessoal pescar em frente a umas ruínas lindas que todos ficaram loucos para descer e fotografar, mas, foi como ele disse, “impossível, não temos tempo para isso”.

Seguimos em direção a parada final em Pitlochry que acabou sendo a melhor parte do passeio: um pulinho final de 30 minutos em uma cidade já bem próxima de Edimburgo. Era basicamente uma rua com comércio local, restaurantes e um gingado bem cinematográfico.

Tomei mais uma sopa e de lá cheguei em Edimburgo, depois de doze longas horas de viagem.

Quer fazer? Pode, mas faz com tempo e faz de carro.

Edinburgh - Loch Ness 65 Inverness

A chegada em Inverness é linda (mas só a chegada), mesmo com chuva, dá pra ver neve no topo das montanhas…

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… e essa é a cidade

Edinburgh - Loch Ness 53 Parada desconhecida

Edinburgh - Loch Ness 57 Parada desconhecida

Já Fort William é realmente muito bonito. Não entendi porque ele não é a atração principal do passeio. Invejei as pessoas caminhando lá embaixo

 Pitlochry é charmosa, mas claro que não há nada para fazer ali: é a cidade ideal para um pit stop, está a uma hora de Edimburgo e a duas horas de Glasgow

  • Hospedagem em Pitlochry, onde tem destilaria de whisky e campos de golfe:

Fisher’s Hotel fica colado na estação de trens da cidade, uma rua abaixo de onde minhas fotos foram feitas. São mais de 130 quartos e super bem cotado.

The Strathgarry Restaurant & Rooms também bem próximo de tudo, com apenas sete quartos, administração familiar. Muito bem cotado e com quartos decorados.

  • Hospedagem em Fort Augustus, no coração do Lago Ness:

The Lovat, Loch Ness é super elogiado e tem 28 quartos. Todo mundo lembra do café da manhã, que é “to die for”.

Kettle House B&B tem apenas quatro quartos, administração familiar e super elogiado, principalmente pela atenção dos donos e pelo jardim, que tem até coelho.

  • Hospedagem em Inverness, no extremo norte da Escócia:

Beaufort Hotel de administração familiar, 32 quartos e um restaurante super elogiado. Boas resenhas, super perto da estação de trens.

Highland Apartments tem 15 apartamentos luxuosos, você vai pirar nas fotos. Muito bem cotado.

Ramada Encore Inverness e Holiday Inn Express Inverness que é para quem não abre mão de redes conhecidas!

  • Hospedagem em Fort William, onde estão as muralhas que aparecem nas últimas fotos:

Premier Inn Fort William é da rede inglesa de hotéis econômicos que está ganhando todo o Reino Unido. Essa unidade parece estar bem no centro de Fort William.

Glentower Lower Observatory é um B&B com sete quartos muito elogiado, mas com preço que acompanha a fama. Ideal para quem planeja fazer grandes caminhadas: está a 20 minutos de carro da Ben Nevis, a montanha mais alta do Reino Unido.

Outras dicas do blog para programar a sua viagem:

  Já sabe onde ficar em Edinburgh? Escolhi algumas opções na Royal Mile que é uma região linda e central, você consegue fazer quase tudo caminhando. Selecionei também algumas opções em Haymarket que é pertinho do centro e mais barato.

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15 COMMENTS

  1. Legal seu relato. Estamos com o guia Brian, a máquina nesse momento! Mas… Não esperamos tempo bom na Escocia. Sempre meio encoberto, vento e chuva. Para quem quer ver monstro, só muito whisky. Kkk. Para nós, o passeio é uma boa opção pq apreciamos a viagem observando as paisagens e com internet. Sim, para quem tem tempo, viajar de carro pode ser melhor. ABS.

  2. Hahahah…Adorei o relato, super sincero. Vou te confessar que tenho muitaaa vontade de ir, mas meu marido é bem pé atrás com tudooo!! Mas, gosto de saber de TODAS as possibilidades e experiência, por isso achei muito boa a leitura!!!

  3. Cara, fazer bate e volta de Edimburgo pras Highlands é loucura hahaha. O passeio pro Lago Ness é incrível, mas é o tipo de coisa que se vc fizer com grupo estraga o dia. Tem que pegar o ônibus em Inverness e descer no ponto de acordo com o passeio que você queira fazer, seguindo o folheto que te dão na rodoviária. Aprendi isso por conta própria, porque não procurei na internet antes e nenhum local conseguiu me explicar kkkkkk

  4. Cara tu é chatão… Fiz este passeio e achei muito lindo! Mas realmente, se você viaja pra lá e não quer encontrar chuva e frio e fica lamentando não ter wi-fi para jogar Candy Crush, ao invés de curtir uma paisagem sem igual à sua disposição, acho que realmente fez a viagem errada.
    Vai pra Miami!

  5. Fiz esse mesmo tour no mês passado, mas tive um pouco mais de sorte com o tempo. Estava um dia bem ensolarado, céu azul! Achei cansativo, mas gostei bastante. Mas se eu pegasse esse tempo feio ai, também acharia uma furada, hahaha. Bom ler um outro ponto de vista! :)

  6. Olá, irei para escocia em dezembro, mais preciso do dia 21 à 27/12/13, tenho interesse em ir para as hightlands, mas de carro, irei no inverno, não gosto de ficar preso ha passeios, por isso a escolha pelo carro, penso em seguir o trajeto: Stirlin,fort william (dormir), lago ness, inverness (dormir), pitlochry e edimburgo, o que acham?

  7. Olá amigo, fiz o mesmo, fui conhecer as Highlands e o Lago Ness em um dia. Sorte que era primavera, não choveu, mas fez um pouco de frio. Visitei Edinburgh em um fim de semana, percorri todos os pontos turísticos e dediquei um dia para a excursão do Lago Ness, confesso que é uma bobagem, mas acho que se a gente não for vai ficar aquele sentimento de ter perdido algo muito importante. Portanto acho que valeu o sacrifício, mas é um passeio que mesmo com tempo não faria de novo.

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