Eu nunca me senti tão bem tratado como em Santiago. Estou tão acostumado a receber e ver gringos serem recebidos com tanta disponibilidade e entusiasmo no Brasil que por um momento (longo, diga-se de passagem) esqueci que é só trocar de país que também viro gringo.

Aliás, nunca fui tão reconhecido como brasileiro antes de conhecer o Chile: independente da roupa que usássemos ninguém mais passa por americano. A cultura brasileira tem se difundido e os chilenos tem estudado nossa língua cada vez mais.

E os brasileiros respondem indo até lá: não é um êxodo completo como o que acontece na Argentina, mas sem acesso a nenhum tipo de dado digo sem muito receio que a gente tem ido cada vez mais para os cantos de lá.

Peço desculpa desde já, mas é impossível conhecer Argentina e Chile em um espaço de tempo tão curto e evitar comparações: bem diferente do país hermano, o Chile oferece Santiago como ponto de partida para um sem fim de paisagens insólitas pelo país que tem o território mais incomum do mundo – são mais de 4 mil km de comprimento, mas pouco mais de 170 km de largura.

Pena que por hora a gente vai se ater a capital – mas fica a promessa de rodar todo o resto o quanto antes!

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Descendo o Cerro San Cristobal… E a pé!

Tamanho e geografia de Santiago

Santiago é uma cidade pequena e quase tudo será feito em distâncias muito curtas. Você só percebe que deu um pulo grande quando chega em Las Condes vindo do Centro de metrô e de lá se vira para chegar em Vitacura – aliás, de maneira geral, é engraçado como você pula de um bairro a outro e percebe rápido que tudo mudou: o tipo de pessoa que anda pelas ruas, o tipo de arquitetura ao seu redor, o tipo de restaurante… Culpa, talvez, dessas várias cidades que a gente chama de Santiago – quer coisa mais estranha e complicada do que a tal da comuna?

Uma viagem a Santiago é, na verdade, uma viagem a Região Metropolitana de Santiago. Essa “grande Santiago” é composta por diferentes comunas que possuem regras, leis e costumes muito particulares – tem gente que tem que atravessar a rua para beber um pisco de madrugada porque em uma comuna a lei seca começa uma hora antes do que na outra.

Aliás (e eu nunca usei tantos aliás em um mesmo post) o beber chileno é um espetáculo a parte: você não pode caminhar enquanto bebe e também não pode caminhar alcoolizado. E como explicar isso para quem tem o pior espanhol do mundo às seis da manhã a caminho do hostel?

Só mesmo um carabineiro, você conhece? Eles fazem parte da polícia militar uniformizada do Chile e são incrivelmente respeitados por lá, aliás, essa nova geração que anda se rebelando contra o governo pode não morrer de amor por eles, mas, de maneira geral, eles se tornaram a polícia mais respeitada do continente americano.

Não é fantástico conhecer um lugar onde as pessoas encontram um policial e se sentem seguras?

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Carabineiros em Santiago

Um amigo chileno me disse que os pais geralmente ensinam as crianças mais novas a procurarem por um carabineiro se elas se perderem antes mesmo de procurarem por eles.

Outra coisa fantástica é a arquitetura das faculdades de Santiago: algumas são coloniais, outras vitorianas, mas as que mais me impressionaram foram as de ferro e vidro – andando pela cidade você irá ver prédios lindos, mas geralmente os que mais se destacam são as universidades chilenas.

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Caminhando pelo Belavista com o San Cristobal ao fundo

Trânsito e transporte público de Santiago

Chileno não buzina. Posso contar nos dedos quantas buzinadas ouvi em uma semana em Santiago.

Peguei só um engarrafamento homérico, mas até Belo Horizonte tem andando pior por volta das seis da tarde.

O metrô de Santiago é lindo: ele ainda não chega ao aeroporto, que para mim é o dez na escala de um a dez, mas possui dezenas de paradas em quase todos os pontos da cidade. Com a exceção da linha verde que precisa de um carinho mais atento, nem na Europa vi estações tão lindas e veículos tão novos e espaçosos – a linha vermelha chilena provoca o dobro do embasbacamento da Jubilee londrina.

Por outro lado, foi lá que pela primeira vez não consegui entrar em um metrô abarrotado: no fim da tarde de uma quinta-feira qualquer, quatro trens chegaram e saíram sem a menor possibilidade de alguém entrar em nenhum um deles.

Perdi meu passe e voltei a pé para o albergue.

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Os contrastes do centro de Santiago

Dinheiro e compras em Santiago

É bem complicado se acostumar a usar a casa dos milhares, a primeira sensação que tive assim que passei pelo desembarque foi de confusão completa: o que é uma gorjeta justa? Quanto um sujeito que carrega minhas malas espera receber?

Depois vem a hora do almoço: um restaurante legal que serve filé por quatro mil pesos é um lugar razoável? Opa, então dois mil pesos da gorjeta anterior é a metade de um filé em um restaurante badalado?

É como entrar numa cápsula do tempo e voltar para a era pré-plano real. Eis que uma conhecida brasileira radicada no Chile facilita tudo com um cálculo primário: basta multiplicar seus gastos por quatro e cortar os zeros.

Um filé por quatro mil pesos é um filé por 16 reais. Uma gorjeta de dois mil pesos é uma gorjeta de 8 reais. Resumo das minhas primeiras quatro horas em Santiago: fiz um motorista de shuttle feliz, mas o good-karma me devolveu o melhor filé da viagem pelo preço de um Big Mac.

É tudo tão inflacionado que você sempre precisa de alguns minutos para processar o real valor do que está pagando: viajei durante horas em como as grandes transações são feitas, como a venda de um carro ou a compra de um apartamento.

Foi aí que cheguei na maior revelação que tive durante minha visita ao Chile: o sacrifício que um chileno faz para conhecer o Brasil é proporcional ao que fazemos para conhecer a Inglaterra.

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Dentro do Museu de Belas Artes

Comida, bebida e balada em Santiago

Um mês na Espanha não me rendeu o carinho pelo vinho que a Argentina me proporcionou em uma semana, mas seis dias em Santiago transformou carinho em amor eterno: pena que comer e beber sem gastar muito não é tão simples como em Buenos Aires, mas também não é nenhum sacrifício.

Quem gosta do bom e velho “brasileirinho” não irá ter dificuldade alguma de passar uma temporada maior em Santiago: um prato comum, e que geralmente é servido em todo tipo de lugar, tem uma carne “ao pobre” que é acompanha cebola, ovo e fritas. Outro prato bem típico e popular é o escalope a milanesa, que lá é escalopa, tanto a simples quanto a recheada com presunto e queijo – o que a transforma em escalopa kaiser.

Beber em balada continua sendo um tiro que sai pela culatra: uma dose de algo qualquer sai quase pelo preço do filé do dia anterior. O legal é que lá o que acompanha a dose do destilado já está incluso no preço da bebida: quem compra um shot de pisco escolhe também o acompanhamento, que geralmente é Fanta ou Sprite.

E você não pode deixar de beber um copo de pisco, mesmo que seja para falar mal depois. Eles bebem pisco com Coca, o que é chamado de piscola, ou a mistura deliciosa de Fanta com chope, o fanchope.

Com relação as baladas: esperava tão pouco da balada chilena que voltei surpreso – você só não pode querer compará-la com a loucura que é a noite portenha, mas os chilenos também sabem brincar como nós, pena que a música sofre daquela mesma dosagem latina de cafonice, mas a noite é divertida, começa tarde e como aqui não tem hora para acabar.

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Uma das maiores feiras do livro do mundo

Urbanismo e segurança pública em Santiago

O Chile é um país beato onde as pessoas tem muito mais pudor do que em outros países próximos: até pouco tempo atrás esse era um país totalitário com uma grande maioria católica. E olhando a infraestrutura da capital e todo o desenvolvimento urbano, estamos falando da terceira melhor qualidade de vida de todo o continente latino-americano, é impossível negar que a ditadura chilena foi a parte mais importante no caminho que transformou o Chile de ontem no país de hoje.

A polícia é eficiente e há quem diga ser incorruptível. Brasileiros são bem tratados e a taxa de criminalidade é a menor do continente – sabe a estação de ônibus de Santiago? Ela é cheia de… Passageiros. Não vi um único morador de rua balançando o seu boné.

Santiago pode não ser a melhor capital latina para o turismo, mas se você me perguntasse onde eu poderia morar não sendo cá, em BH, eu acho que agora já tenho a minha resposta.

Leia mais para saber o basicão de Santiago:

+ Santiago, Chile: 12 dicas de hotéis separados por bairros

Qual o melhor seguro de viagem para o Chile?

+ Lastarria: o bairro mais charmoso de Santiago

+ Roteiro de um dia no centro de Santiago (com mapa interativo)

Outras dicas do blog para programar a sua viagem:

  Já sabe onde ficar em Santiago? Selecionei as melhores opções em quatro bairros que adoro em Santiago: Bellavista e Lastarria na região central e os vizinhos El Golf e Las Condes.

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6 COMMENTS

  1. Oi, Tiago!
    Sigo seu blog há tempos. Agora surgiu a possibilidade de uma viagem a Santiago e minha primeira ideia foi vir aqui pesquisar. Só que estou vendo que sua postagem é de 2011… Será que as coisas mudaram muito de lá pra cá? Ou a viagem continua valendo a pena e com seus elementos fundamentais pouco mudados (preços, segurança etc)?
    Abraços!

    • Oi Alice, obrigado pelo carinho! Com relação a preços vale sempre perguntar para alguém que acabou de voltar, mas Santiago SEMPRE vale a pena. Os posts de Santiago foram todos atualizados em outubro/novembro do ano passado.

  2. Fui ao Chile em junho de 2011 e me apaixonei perdidamente pelo país. Voltei tão entusiasmado, que é comum meus amigos me chamarem de “chileno”. Seja como for, sofri bastante com essa questão do dinheiro. Comprei um sanduíche com batata frita e refrigerante. Paguei 15 mil pesos feliz, pensando que o lanche tinha custado 15 reais.

    Custou 60!

    Seja como for, estou louco para voltar a Santiago e seu texto só reforçou essa vontade! Espero fazer isso em março.

  3. Oi Thiago
    Acompanho o site desde o ano passado quando estava planejando um mochilão para a Europa. O próximo destino será o Chile, não terei muito tempo lá, e gostaria de saber quais os passeios que você indica. O que tem de mais legal para ver por lá?

    Um abraço e parabéns pelo blog!!

  4. Peraí…como eu vou poder viver em uma cidade onde não se pode caminhar alcoolizado?? Aí é tenso!

    Muito bom o relato Thiagão, com certeza fiquei com uma vontade danada de conhecer Santiago depois de uma visita por lá com o Rodei.com!

    Keep the good work bro! E parafraseando eterno viajante Bilbo Baggins:

    “It’s a dangerous business, going out your door.
    You step onto the road, and if you don’t keep your feet,
    there’s no telling where you might be swept off to.”

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