Assim que voltei de viagem, o que todo mundo perguntou foi “e como está Buenos Aires depois do Milei?”, como se eu tivesse informações privilegiadas de um lugar novo, desconhecido, inusitado!

O curioso é que a percepção que tive sobre a curiosidade das pessoas é a de que elas estavam realmente interessadas em ouvir o que eu tinha para dizer, independente do que fosse.

Veja bem, eu não disse que elas tinham esperança de que as coisas estivesse bem, normais ou “melhor do que antes”: elas estavam abertas a ouvir o que quer que eu dissesse a partir dali.

Então, vou resumir o que achei sobre essa viagem à Argentina, minha primeira ida a Buenos Aires depois de Javier Milei.

Vem comigo.

Como está Buenos Aires depois de Javier Milei

No dia 19 de novembro de 2023, o candidato Javier Milei venceu o segundo turno das eleições à presidência da Argentina com quase 15 milhões de votos.

Isso fez de Javier Milei o político mais votado da história da Argentina!

O problema é que o homem é completamente instável – isso para dizer o mínimo.

Em janeiro de 2024 a inflação acumulada da Argentina superou 250% ao ano e se tornou a maior do continente, superando com folga os números da Venezuela.

Por isso que as minhas percepções sobre a Argentina depois de Javier Milei são muito específicas e podem não corresponder com o cenário atual à medida que o tempo passa.

Minha dica é continuar jogando “Argentina” no Google Notícias e acompanhar as informações mais recentes para não ser pego de surpresa.

Nessa viagem eu voei primeiro para Santiago no Chile, então não fiz um voo internacional saindo do Brasil.

Independente disso, de janeiro para cá greves nos aeroportos argentinos têm sido cada vez mais frequentes (aconteceu uma no dia anterior ao meu voo e está acontecendo outra agora, enquanto escrevo esse post).

Uma greve geral, como a que peguei, ou uma paralisação temporária, como essa, de agora, são responsáveis pelo cancelamento de quase 30 voos entre Brasil e Argentina em um único dia – e isso pode atrapalhar os planos de quem embarca naquele dia e de quem embarca depois também.

De toda maneira, tinha muito tempo que eu não descia e partia do Aeroporto Internacional Ministro Pistarini (o famoso Ezeiza), e a experiência foi ótima: achei bonito, achei iluminado e os processos foram todos muito rápidos e práticos.

Um certo fazuê na hora de pedir o Uber no desembarque, mas nada que desabonasse a experiência – até porque, foi mas mais tranquilo (e rápido) do que fazer isso em Congonhas, por exemplo.

Batendo perna no início da Recoleta. (Unplash)

Eu abdiquei completamente do metrô no meus planejamentos de viagem.

Fiz isso porque o trânsito estava uma beleza (durante o Carnaval, Buenos Aires fica completamente vazia), e porque é barato, principalmente se você está viajando acompanhado e pretende dividir despesas.

Como fiquei hospedado em Palermo, as corridas mais longas (para Puerto Madero, por exemplo) custavam aproximadamente 5 mil pesos, ou seja, menos de 5 dólares se usado um cartão de débito internacional.

Principalmente para quem fica na cidade por pouco tempo, e por isso pode se dar ao luxo de investir em segurança e praticidade, se deslocar de carro por aplicativo em vez de metrô é mais seguro e vantajoso.

Buenos Aires depois do Milei: como é visitar a Argentina?
O trânsito de Buenos Aires em um momento bem tranquilo do dia (Unplash)

A única coisa que me impediria de pegar um Uber seria o trânsito, mas, como eu disse, durante a minha viagem isso não foi problema.

Conversando com amigos brasileiros que moram em Buenos Aires, todos foram unânimes ao dizer que o lugar em que mais se nota a decadência da cidade é no metrô.

Já eu notei nos ônibus: todos muito antigos, batidos e caindo aos pedaços.

Quando pedimos dicas de segurança, o que os locais dizem primeiro é: cuidado com estações de metrô e vagões lotados.

Como eu já tinha o aplicativo instalado, só usei Uber durante a viagem, mas vale dizer que na Argentina existem outras opções que não existem aqui, como Cabify.

Táxi em Buenos Aires eu não pego nem a poder de bala, é exaustivo ser passado para trás tantas vezes em tão pouco tempo.

Por outro lado, vale dizer que ao pedir um Uber você pode descobrir na hora, conferindo modelo e placa, que o seu Uber é um táxi.

Sei que essa é a maior curiosidade de quem vai viajar, como estão os preços dos restaurantes em Buenos Aires?, mas quero ir além e falar sobre a experiência completa.

Até porque é loucura publicar um post sobre preços em uma cidade que enfrenta o risco real da hiperinflação a qualquer momento – por isso, ficamos combinados que tudo aqui diz respeito a fevereiro de 2024.

Bem, comer em Buenos Aires já não é tão barato como foi um dia, mas se você escolhe restaurantes disputados e que são referência naquela área, provavelmente será mais barato do que fazer o mesmo em São Paulo, Rio de Janeiro ou Belo Horizonte.

A minha percepção sobre valores foi essa:

  • Um café da manhã em um desses cafés famosos nas redes sociais varia entre 7 mil e 15 mil pesos, ou entre 7 e 15 dólares.
  • Uma garrafa de cerveja custa 5 mil pesos (4,20 dólares) e um Aperol 7 mil pesos (6 dólares).
  • Uma carne maravilhosa em uma parrilla famosa com uma taça de vinho (ou uma garrafa para dois) varia entre 40 e 50 mil pesos, ou entre 40 e 50 dólares.
  • Uma massa em um italiano famoso varia entre 15 e 18 mil pesos, ou entre 15 e 18 dólares.
  • Uma empanada custa entre 800 e 1.200 pesos, ou aproximadamente um dólar.

Quem está indo para Buenos Aires pela primeira vez pode estranhar a cultura do “cubiertos”, aquela cestinha de pães que chega de forma não solicitada assim que somos atendidos pelo garçom.

Sim, ela é paga, e não tem o que fazer: são entre 3 e 5 mil pesos por pessoa a depender da qualidade do restaurante.

O que mais me chamou a atenção nessa viagem à Argentina pós Javier Milei não foi o preço da comida, mas outros dois pontos que vale mencionar: a gorjeta e a qualidade da comida e do atendimento.

Com relação à gorjeta, é impressionante como até hoje muitos restaurantes ainda insistem para que ela seja paga à parte – e para brasileiro acostumado com pix isso é um insulto.

É por isso que não entendo como “dicas para lidar com dinheiro na Argentina” seja algo tão discutido na internet – se você já não usa dinheiro no Brasil, por que diabos vai usar em um país onde a moeda é ainda mais desvalorizada?

Esquece isso de Wester Union, levar dólar ou real, trocar dinheiro em cuevas… É cartão e ponto!

Eu pessoalmente prefiro cartão de crédito (não abro mão de milha de forma alguma), mas, para quem quer economizar, use cartão de débito internacional e não se fala mais nisso.

Enfim, voltando ao assunto da gorjeta.

Se assim como eu em momento algum você pretenda ter dinheiro vivo em mãos, basta pedir desculpas e dizer que essa não é uma possibilidade. E só lamento, não há o que fazer.

Eles vão te perguntar se você tem Mercado Pago para pagar a gorjeta de forma direta, mas infelizmente o nosso Mercado Pago não comunica com o deles.

O que você pode fazer então é dar a gorjeta por Paypal, mas a probabilidade do garçom não ter Paypal é grande.

O segundo ponto que eu queria mencionar é a qualidade da comida e do atendimento.

Olha, exceto pelos cafés da manhã que foram quase todos maravilhosos, eu voltei decepcionado com as experiências gastronômicas que tive (e essa é a primeira vez que isso acontece).

Café da manhã em Buenos Aires
O café da manhã argentino sempre servindo tudo para quem curte um docinho

Tirando uma única vez que a espera pelo prato levou uma hora e meia (sim, juro), nada de muito sério, mas sempre tinha um “porém”: na maior parte das vezes o problema era a comida mesmo, mas quando não era a comida era o serviço.

Claro que toda opinião é muito particular e reflete experiências e expectativas muito pessoais, mas eu voltei dizendo que a qualidade do serviço em Buenos Aires despencou vertiginosamente.

Ou o atendimento é demorado (geralmente, pouca gente trabalhando), ou desinteressado ou a casa não tem exatamente aquilo que você pediu.

Beber em Buenos Aires encareceu, mas ainda é bem mais barato do que beber no Brasil.

No Brasil estamos acostumados com ideia de que uma garrafa de vinho ou espumante pode ser o que o cardápio tem de mais caro, e na maior parte das vezes ela vale mais do que o prato, independente da qualidade do vinho.

Em Buenos Aires uma taça de vinho para acompanhar a refeição (ou uma garrafa dividida por dois) vale o mesmo que tomar uma latinha de refrigerante.

E quando a gente reconhece o rótulo do vinho, sabemos que essa mesma garrafa custaria três vezes mais se fosse no Brasil (e comparando com preço de supermercado, não de restaurante).

El Ateneo Grand Splendid, uma das livrarias mais visitadas do mundo (Unplash)

A Argentina tem vivido tempos mais difíceis nos últimos meses, mas eu nunca encarei Buenos Aires como um destino de compras.

Sempre achei surreal tentar achar base de comparação entre os outlets portenhos e os americanos, até porque essa conta não fecha, são economias completamente diferentes.

Confesso que no início eu esperava encontrar pelo menos promoções que me fizessem deixar de comprar no Brasil, mas isso também nunca aconteceu: Buenos Aires não oferece nada que não possa ser encontrado no Brasil pelo mesmo preço ou mais barato.

Claro que você consegue encontrar marcas locais (de couro, lã, malha…) por preços incrivelmente mais baixos do que os de produtos internacionais, mas você não pode comparar o preço de produtos tão diferentes.

Sempre houve uma diferença significativa entre o preço anunciado e o preço real pago por quem passava o cartão: antes, uma diária de 100 dólares era reconvertida para até 40 dólares!

Só que desde a maxidesvalorização essa diferença caiu absurdamente, então já não é mais essa maravilha toda – agora a gente consegue um “desconto” bem mais discreto.

Isso tudo para dizer que atualmente o valor que você vê anunciado está bem próximo do que será pago – o que dá para fazer é usar o cartão (nunca dinheiro), porque assim você se livra do imposto de 21% (e quem paga com cartão de débito internacional ainda economiza em spread e IOF).

A gente consegue se hospedar gastando menos e com muito mais qualidade quando opta pelos apartamentos de Palermo – aliás, “apartamento em Palermo” é quase uma instituição portenha.

Acho que vale a pena pesquisar os melhores “hosts” com apartamentos elogiados e boas resenhas, assim você fica em um lugar confortável, bem localizado e com foco em receber turistas gringos (no caso, a gente).

Eu fiquei no Luxury Apartments e adorei. O prédio tinha três andares e eu fiquei no terceiro, de frente para a rua.

Era um studio pequeno, mas novo e completo: cozinha equipada, sofá de dois lugares, mesa de jantar para quatro pessoas, banheiro com amenidades, roupa de cama e de banho acima da média…

E esse esquema de receber o código para passar pela fechadura eletrônica que dá acesso ao prédio e o código da fechadura que dá acesso ao apartamento é muito cômodo e prático – apesar de que o anfitrião veio me receber no primeiro dia.

Conversando com amigos que moram na cidade, todos foram unânimes ao dizer que, sim, a quantidade de furtos cresceu absurdamente, principalmente no metrô, tanto nas estações quanto nos vagões.

Eu evito ao máximo dar sorte ao azar, mas confesso que andei de madrugada por Palermo em ruas completamente vazias e tive aquela sensação de que nada aconteceria – e realmente nada aconteceu.

Também não bati muita perna pelo microcentro, aliás até fiz isso uma ou duas vezes, mas estava de pochete virada para frente e não me senti intimidado em momento algum.

Aliás, San Telmo também estava excepcionalmente agradável – como fui durante a semana e no meio de um feriado, pela primeira vez achei San Telmo uma delícia!

Olha, de maneira geral eu sempre achei Buenos Aires muito segura, mas é óbvio que aumentou o número de pessoas morando nas ruas, então a dica que dou é encurtar distâncias pedindo um Uber tarde da noite.

Preciso dizer que estive em Buenos Aires durante os cincos dias mais pacatos do ano, o feriado de Carnaval.

Dito isso, de maneira geral, acredito que o turista brasileiro que já esteve em Buenos Aires antes não irá sentir muita diferença entre o que era e como está agora – principalmente quem evita o uso de transporte público.

Dos lugares por onde passei, a região mais diferente quando comparada com Palermo, Recoleta, Villa Crespo, Puerto Madero… É Caminito.

Em Caminito é impossível tomar uma cerveja e beslicar um tira-gosto sem ser interrompido por pedintes a cada dois minutos. Esqueça manter uma linha de raciocínio durante um bate-papo em uma mesa de rua em Caminito.

Na Plaza Serrano de Palermo também, mas ali a pegada é outra: geralmente são crianças vendendo rosas ou deixando algum cartãozinho na mesa, mas é igualmente incessante.

Falando nisso, pedintes e motoristas de carro por aplicativo estão cada vez mais velhos, o que diz muito sobre a crise – a maioria absoluta dos motoristas de Uber tinham mais de 65 anos.

E já que mencionei Uber, outra curiosidade é que lá não existe a categoria black, os melhores carros são os da categoria comfort – e mesmo assim quase todos estão velhos, batidos por fora e desgastados por dentro.

No mais, ver a Floralis Genérica destruída depois da tempestade no fim do ano passado soou como uma piada de mau gosto – os argentinos dizem que ela representa bem a economia do país agora.

Aliás, a Faculdade de Direito, a poucos metros dali, estava muito largada também – e essa a gente nem pode por a culpa na chuva.

Conclusão

O turista que passa a maior parte da viagem em Palermo, Recoleta, Villa Crespo e Puerto Madero ainda não nota muita diferença entre a Buenos Aires pré e pós Javier Milei.

Claro que a gente nota a crise quando percebe o aumento na quantidade de pessoas morando nas ruas e a decadência do transporte público, mas de maneira geral a cidade ainda tem preços atrativos para turistas brasileiros.

Claro que a inflação ao longo dos anos é certa, mas acredito que para notar diferença significativa de preço o turista precisa fazer duas viagens com pouco intervalo de tempo entre elas e não comparar uma ida recente com uma ida em um passado mais distante.

Já com relação aos restaurantes, o que mais me chamou a atenção foi a queda na qualidade do serviço, principalmente a demora no atendimento.

Por último, com relação à segurança, vale ficar atento aos pertences como sempre (estamos falando de uma metrópole!), e os números mostram que os furtos tem aumentando, mas o meu vira-latismo grita forte agora: a Argentina ainda dá um banho em segurança pública na gente.

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